Ainda sobre a homossexualidade e o opus dei.- nempedronempaulo
Fecha Monday, 29 February 2016
Tema 010. Testimonios


Fui numerário dos 15 aos 33 anos. E sou homossexual. Vivo com meu companheiro há muitos anos. Somos felizes. Nossas famílias nos acolhem como um casal qualquer e comum; nos amam! Temos muitos amigos não homossexuais que freqüentam nossa casa, sem nenhum problema ou preconceito. 

Eu me descobri homossexual quando ainda estava dentro do opus dei. Depois de um tempo vivendo uma vida dupla, resolvi enfrentar o problema e soltar o sapo. Era uma tentativa de viver de verdade a entrega a Deus. Falei várias vezes com os diretores sobre isso e vivi sinceridade selvagem acerca do tema. Contava minhas tentações e também minhas quedas ocasionais, “puladas de cerca” quando saía com alguns gajos “de fora”.

O interessante é que o diretor do centro – a quem, suspeito, também apetecesse contemplar as pernas de jogadores de futebol – pedia-me que lhe contasse detalhadamente  minhas aventuras, chegando a pedir explicações minuciosas do que e como ocorrera a “brincadeira” pecaminosa. Era além do que seria necessário contar. E eu contava, ingenuamente, achando que estava exercendo a sinceridade selvagem. Agora, penso que era mera concupiscência ou curiosidade mórbida ou voluptuosa do diretor.

No discurso que eu ouvia na conversa fraterna, com o leigo e com o sacerdote, diziam-me que uma coisa era ter tendências homossexuais e outra era praticar atos homossexuais. Eu teria de viver a castidade – abstendo-me de atos e tentações – da mesma forma que uma pessoa heterossexual. Não me diziam que era possível curar-me, mas me conduziam a uma luta de castidade.

Tenho quase certeza que vários numerários eram gays – alguns com cargos de direção (o meu próprio diretor da época, possivelmente) – que continuavam no opus dei e penso que, talvez, lutassem para viver a castidade tal como a mim me diziam para viver. Outros, talvez, possam ter dado suas “puladas de cerca”, como eu mesmo fiz à época, da mesma forma como deve ocorrer com outros numerários heterossexuais.

Há alguns desses numerários por aí. Um deles, por exemplo, transita no mundo das artes, em seu país. Ao que todos os boatos indicam,  esse fulano teria tido um “deslize grave” e o opus dei resolveu mandar o moçoilo para outra cidade. No novo centro, acabou por ser causa de várias dores de cabeça para o diretor, porque “sumia” durante horas, sem dar notícias ou explicação. Quando reaparecia, algumas horas depois, apresentava desculpas e justificativas para lá de esfarrapadas.

Pouco me importa se uma pessoa é gay, ou não. Pouco se me dá se o fulano é do opus dei, ou não. Para mim, o que realmente importa é se essa pessoa está sendo feliz. E, principalmente,  importa-me viver com liberdade e respeitar, profundamente, a liberdade dos demais.

Aos que afirmam que a “cura gay” é possível, eu lhes digo que:

(i)                  não se trata de cura, porque não diz respeito a nenhuma doença;

 

(ii)                 quando muito, pode-se reprimir a atração sexual por pessoas do mesmo sexo, mas não é possível afastá-la sem graves e profundos prejuízos para a sanidade mental da pessoa;

 

(iii)               tenho convicção de que nasci gay, sendo que a descoberta (confirmação) veio posteriormente, na adolescência, quando eu já estava dentro do opus dei, sem descuidar o fato de que, desde muito miúdo, eu sentia que tinha afeição especial por outros homens, sem saber o que isso significava realmente;

 

(iv)              o fato de eu ser gay não tem relação com nenhum fator de educação nem ambiental, porque tive a mesma educação, na mesma família e ambiente, que os meus outros irmãos varões heterossexuais;

 

(v)                não sei se tem causa ou fatores genéticos em jogo, mas sei que não decorre de educação ou fatos acontecidos na infância;

 

(vi)              é ridículo dizer que as associações de gays e lésbicas pretendem esconder dos outros gays e lésbicas a possibilidade de deixar de ser homossexual; essas associações pretendem o respeito aos direitos civis dos homossexuais, bem como que os outros entendam que não se pode forçar as pessoas a deixar de ser homossexuais, porque isso seria violência e contra a liberdade; e, no mesmo sentido, há de se deixar de tratar a homossexualidade como uma doença ou aberração a ser  curada;

 

(vii)             estar no opus dei, sendo gay,  pode ser, para alguns que  suportem a carga, um álibi perante a sociedade e a mim não cabe julgar o proceder dessa pessoa.

 

A todos, finalmente, desejo uma boa semana,  muito amor e muita liberdade em suas vidas!

nempedronempaulo









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