Texto de Meditaciones
(disponible traducción al español)


Caros Orejas,

Ocorreu no início dos anos 80, não me lembro se antes ou depois de eu ter pedido a admissão como numerário. Um amigo meu de faculdade, judeu, frequentava os recolhimentos mensais de São Gabriel e gostava muito da pregação do Pe Francisco Faus; eu também era fã desse pregador. Aconteceu que em um intervalo de um recolhimento, enquanto tomávamos um cafezinho, um numerário mais velho aproximou-se de nós e começou a puxar conversa. Em determinado ponto da conversa o tal numerário fez um comentário preconceituoso contra os judeus (ele não sabia qual era a origem do meu amigo), e depois eu tive que pedir desculpas ao meu amigo e explicar que aquele comentário refletia as opiniões pessoais daquele indivíduo, e que na opus não havia preconceito contra judeus. Comentei o ocorrido com o sacerdote que me atendia na época, o Pe. Vicente Ancona López, e ele confirmou o que eu pensava, isto é, que o tal numerário tinha atuado de maneira incorreta e que na opus não havia preconceitos de qualquer espécie.

Na ocasião eu já tinha assistido o vídeo de uma tertúlia pública na qual uma moça judia perguntava a S. Escrivá o que ele pensava dos judeus, e a resposta foi aquele comentário relativo ao amor que Escrivá sentia por Jesus Cristo, que era judeu, etc. Na época eu ainda não sabia que essas tertúlias eram preparadas e que as perguntas já estavam combinadas previamente. Mas mesmo assim a resposta de S. Escrivá pode ter sido plenamente sincera, ainda que não tenha sido espontânea nem improvisada. O fato é que o meu amigo parou de ir aos recolhimentos, mas eu não guardei qualquer dúvida sobre a postura da opus com relação aos judeus.

Com o passar do tempo, passei a identificar no ambiente dos centros da opus alguns traços de sentimentos e preconceitos contra os judeus, e pensei ter localizado a origem desses preconceitos em alguns textos de publicações internas. Por exemplo, havia um texto em um dos livros de "Meditaciones" no qual se reproduziam palavras de S. Escrivá segundo as quais existiria uma conspiração envolvendo judeus e maçons contra a Igreja. Achei estranha aquela acusação contra os judeus em geral, e pensei que ela talvez refletisse uma opinião antiga de S. Escrivá, contra a qual ele teria lutado ao perceber que ela emanava de um preconceito. Pensava, na minha inocência, que sendo S. Escrivá um homem como os demais, poderia se equivocar e mudar de opinião quando percebesse que estava errado. E que o fato de ter alimentado preconceitos contra judeus e outros seria uma atitude comum em uma pessoa que tivesse vivido na Espanha franquista.

Algum dos Orejas poderia me dizer se o texto de "Meditaciones" ao qual me referi acima ainda está publicado, e em caso afirmativo, onde está a tal passagem relativa aos judeus e maçons? E com relação ao anti-semitismo de S. Escrivá, há outros textos, expurgados ou não, que o evidenciem?

Grato,

Demetrio C. Z., São Paulo, Brasil